sábado, 22 de fevereiro de 2014

Mais traduções que venho fazendo para não ficar fazendo meu romance - On being blue

Parágrafo final do "on Being Blue" do William Gass

(a propósito, o azul no livro é meio que metáfora para o literário, mas a argumentação do livro é bem longe de ser organizada de uma forma a ser possível delinear os detalhes do que ele está dizendo. É um ensaio meio que em fluxo de consciência)

Então ao escritor desgraçado eu gostaria de dizer que existe um corpo cujo pedido seu de carícia nunca é vulgar, nunca é impuro, inconveniente ou impolido; pois você deve se lembrar de que suas atenções não se destinam apenas a celebrar beleza como também para criá-la; que é seu um amor que traz seu próprio parto, da maneira como Platão declarou, e que você deve portanto desistir das coisas azuis desse mundo em favor das palavras que as dizem: lápis azuis, narizes azuis, filmes, azuis, leis, pernas azuis e meias, a linguagem dos pássaros, abelhas, e flores da forma como são cantadas por estivadores, aquela aparência plúmbea da pele quando afetada pelo frio, contusão, doença, medo, cântico e reza, já que o dia pode começar mal, numa luz empapada que molha a alma antes da consciência conseguir quebrar de forma que cada pensamento está umedecido como uma testa ansiosa, desejo não centelha,  e o pau matinal está mole... consequentemente fale e louve, pois a queda do espírito, descendendo feito um mergulhador na direção do chão do oceano, é marcada por uma escuridão crescente, verde virando naval, então um espectro de tonalidades da espessura de um fio de cabelo que aparece para pousar, entre peixes nevando e plantas pálidas feito papel, em uma noite sem norte. E nossas linhas são longas embaixo d'água, largas e magricelas, curvando-se contra si próprias como as pernas de uma aranha morrendo; nossas feições se afrouxam em melancolia, e o azul que marca a mudança é pesado, espesso feito lodo... então grite e celebre antes que a sombra cubra a janela: sangue azul, azul em bolas, boinas, barbas, casacos, colares, chips e queijo... enquanto há tempo e você é capaz, porque quando azul tiver abandonado as bordas de seus objetos como se o mundo tivesse sido branqueado dele por completo, quando o amplo olho azul se fechar para a temporada, quando não há mais nada além da linguagem... penumbra aguada, oceano azedo... não se pense um clero esvaziado de coro e cânticos... cante e conclame... a despeito da dor de barriga e da solidão, a nova gordura acumulada e pele descamante e bebedeira e fúria desamparada, a despeito de foras, choros, segundas-feiras, folhas de papel como pratos sujos, o amanhã despencando na sua direção feito um edifício, fique aguardando aquele momento miraculoso em que em sua boca os dentes se transformam em dragões e você contra as probabilidades faz o que Demóstenes fez no Egeu: forme com pedrinhas sílabas e faça soar a rocha; assim avisado e encorajado, comandado, advertido, persista... ainda que o colchão em que você se enluta seja entornado e aqueles cantos onde os rolos de moedinhas se abrem feito frestas para engoli-las, relógios se arrastam, e tendo tido talvez alguma chuva torrencial, ou fumaça de fábrica, um vento envelhecido e ar invernal, e tudo é cinza.

Um comentário:

  1. Aqui parte do finzinho do parágrafo no inglês original (a imagem do colchão é bem estranha, e talvez esteja mal traduzida por mal entendimento meu):
    … even though the mattress where you mourn’s been tipped and those corners where the nickels roll slide open like a slot to swallow them, clocks slow, and there’s perhaps a pouring rain...

    ResponderExcluir