(a propósito, o azul no livro é meio que metáfora para o literário, mas a argumentação do livro é bem longe de ser organizada de uma forma a ser possível delinear os detalhes do que ele está dizendo. É um ensaio meio que em fluxo de consciência)
Então ao escritor desgraçado
eu gostaria de dizer que existe um corpo cujo pedido seu de carícia nunca é
vulgar, nunca é impuro, inconveniente ou impolido; pois você deve se lembrar de
que suas atenções não se destinam apenas a celebrar beleza como também para criá-la;
que é seu um amor que traz seu próprio parto, da maneira como Platão declarou,
e que você deve portanto desistir das coisas azuis desse mundo em favor das
palavras que as dizem: lápis azuis, narizes azuis, filmes, azuis, leis, pernas
azuis e meias, a linguagem dos pássaros, abelhas, e flores da forma como são
cantadas por estivadores, aquela aparência plúmbea da pele quando afetada pelo
frio, contusão, doença, medo, cântico e reza, já que o dia pode começar mal, numa luz empapada que molha a alma antes da consciência conseguir quebrar de
forma que cada pensamento está umedecido como uma testa ansiosa, desejo não
centelha, e o pau matinal está mole...
consequentemente fale e louve, pois a queda do espírito, descendendo feito um
mergulhador na direção do chão do oceano, é marcada por uma escuridão
crescente, verde virando naval, então um espectro de tonalidades da espessura de um
fio de cabelo que aparece para pousar, entre peixes nevando e plantas pálidas feito
papel, em uma noite sem norte. E nossas linhas são longas embaixo d'água, largas e magricelas, curvando-se contra si próprias como as pernas de uma
aranha morrendo; nossas feições se afrouxam em melancolia, e o azul
que marca a mudança é pesado, espesso feito lodo... então grite e celebre antes que a sombra cubra a janela: sangue azul, azul em bolas, boinas, barbas,
casacos, colares, chips e queijo... enquanto há tempo e você é capaz, porque
quando azul tiver abandonado as bordas de seus objetos como se o mundo
tivesse sido branqueado dele por completo, quando o amplo olho azul se fechar para a
temporada, quando não há mais nada além da linguagem... penumbra aguada, oceano
azedo... não se pense um clero esvaziado de coro e cânticos... cante e conclame... a
despeito da dor de barriga e da solidão, a nova gordura acumulada e pele
descamante e bebedeira e fúria desamparada, a despeito de foras, choros,
segundas-feiras, folhas de papel como pratos sujos, o amanhã despencando na sua
direção feito um edifício, fique aguardando aquele momento miraculoso em
que em sua boca os dentes se transformam em dragões e você contra as
probabilidades faz o que Demóstenes fez no Egeu: forme com pedrinhas sílabas e
faça soar a rocha; assim avisado e encorajado, comandado, advertido, persista...
ainda que o colchão em que você se enluta seja entornado e aqueles cantos onde os rolos de moedinhas se abrem feito frestas para engoli-las, relógios se arrastam, e tendo tido talvez alguma chuva torrencial, ou fumaça de fábrica, um vento envelhecido e ar invernal,
e tudo é cinza.
Aqui parte do finzinho do parágrafo no inglês original (a imagem do colchão é bem estranha, e talvez esteja mal traduzida por mal entendimento meu):
ResponderExcluir… even though the mattress where you mourn’s been tipped and those corners where the nickels roll slide open like a slot to swallow them, clocks slow, and there’s perhaps a pouring rain...