(Noutra tarde em que eu me via sem ânimo de continuar revisando meu romance, fiz essa traduçãozinha. O livro tá editado aqui no Brasil, não sei como ficou a tradução profissional. O texto no inglês tem um tom coloquial fluido que foi um pouco difícil de tentar transmitir no português...)
Gravetos, de George Saunders (do livro Tenth of December)
Todos os anos na noite de Ação de Graças nós nos juntávamos atrás de papai enquanto ele arrastava a roupa de papai Noel para a rua e a colocava num tipo de crucifixo que ele tinha construído com um mastro de metal no jardim. Na semana do final do campeonato de futebol americano o mastro era vestido num uniforme e o capacete do Rod e Rod tinha que confirmar com papai se ele quisesse tirar o capacete de lá. No quatro de julho o mastro era Tio Sam, no dia dos Veteranos um soldado, no Halloween um fantasma. O mastro era a concessão de papai à alegria. A nós só era permitido um giz de cera da caixa de cada vez. Na véspera de natal ele berrava à Kimmie por desperdiçar uma fatia de maçã. Ele flutuava por cima de nós quando nos servíamos de ketchup, dizendo, bom o bastante bom o bastante bom o bastante. Festas de aniversário eram com cupcake, nenhum sorvete. A primeira vez que eu trouxe uma garota para casa ela perguntou “qual é essa do seu pai com aquele mastro” e eu fiquei ali sentado e piscando.
Nós saímos de casa, casamos, tivemos filhos nossos, encontramos a semente da ruindade florescendo dentro de nós. Papai começou a vestir o mastro com mais complexidade e menos lógica discernível. Ele botou algum tipo de pele sobre ele no dia da marmota e levou um holofote para assegurar uma sombra. Quando um terremoto atingiu o Chile ele colocou o mastro de lado e pintou com spray uma fenda na terra. Mamãe morreu e ele vestiu o mastro de morte e pendurou da barra paralela fotos da mamãe de quando ela era bebê. Nós parávamos por lá e achávamos talismãs estranhos da juventude dele arranjados ao redor da base: medalhas do exército, tíquetes de teatro, suéteres velhos, tubos da maquiagem da mamãe. Um outono ele pintou o mastro de amarelo brilhante. Ele o cobriu de cotonetes naquele inverno para aquecer e providenciou uma prole martelando em seis gravetos cruzados ao redor do jardim. Ele correu comprimentos de fio entre o mastro e os gravetos, e grudou com fita cartas de desculpa, admissões de erro, apelos por compreensão, tudo escrito numa caligrafia frenética em cartões de índice. Ele pintou uma placa dizendo AMOR e a pendurou do mastro e outra que dizia PERDOA? E então ele morreu no hall com o rádio ligado e nós vendemos a casa a um casal jovem que arrancou o mastro e deixo-o na beira da rua no dia em que recolhem o lixo.
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