sábado, 8 de setembro de 2012

Acima das leis implícitas

Cormac McCarthy escrevendo in full power é algo como um milagre. Sério mesmo. Ainda não encontrei um personagem melhor que o judge holden. Alguém sugere algum competidor?


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O DFW comentou que este livro é um dos que mais causou perplexidade em sua vida de leituras. Como assim, um livro como esse? Linguagem bíblica, hoje? Completamente esvaziada de ironia, de jogos literários,  de metalinguagem, fala do passado sem "problematizar" (palavra importante, mas cujo uso exaustivo tem  feito com que ela ficasse meio cansada) sua representação, sem enredo, sem desenvolvimento de personagens, sem nada? Linguagem bíblica? E funciona? Como que um livro assim existe? A imagem que se cria não é de um livro que foi escrito por alguém em algum lugar buscando o status de Grande Autor, e sim de algo que de alguma maneira desceu de uma montanha depois de ter caído dos céus (ou subido dos infernos), longe dos olhos de todos.

(estas comparações minhas de desavergonhada grandiloquência certamente soam ridículas para quem não leu o livro, eu sei. Leiam o livro)

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Mas realmente é esta a impressão que se tem, a de que o Cormac parece acima das leis implícitas da arte literária: assim quando li Cordilheira do Daniel Galera e vi o personagem chamado Holden, pensei "referência ao Salinger, claro". Depois o Daniel me disse que não tinha pensado nisso, mas que todo mundo menciona... eu pensei "claro, não dá pra chamar um personagem de Diadorim e achar que o pessoal não vai pensar em GS:V... Agora, só pela milésima vez que pensei em Blood Meridian me dei conta que o nome do juiz é o mesmo nome do personagem do Salinger... e ainda assim a homonímia parece coincidência como as da vida real, fulano e beltrano (ou fulano 1 e fulano 2)  têm o mesmo nome não por algum sentido implícito ou conexão motivada, e sim porque as coisas simplesmente são assim.

É preciso um livro como Blood Meridian para que Holden deixe de ser um nome com dono.

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